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GESTÃO DE CULTURA E ARTE

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A VIAGEM EXTERIOR

O CAMINHO INTERIOR

OU VICE-VERSA

artista Angella Conte   |   curadoria Bruno Mendonça

atuação GROU. material gráfico e divulgação

A convite da Curadoria de Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo, a artista Angella Conte realiza a exposição “A Viagem Exterior, O Caminho Interior ou Vice-Versa”. Com o acompanhamento crítico e curatorial do pesquisador Bruno Mendonça – membro do Grupo de Crítica e curadoria do Centro Cultural a exposição contará com vídeos de diferentes períodos da produção da artista apresentados de forma inédita. O agrupamento desses trabalhos se deu a partir do diálogo entre a artista e o pesquisador. Tais trabalhos apresentam questões recorrentes na produção de Angella Conte como reflexões acerca da noção de paisagem, o corpo como dispositivo e sua relação com o espaço assim como questões sócio-políticas e econômicas.

"A paisagem e seu viés conceitual[i], memória e identidade, a tensão entre ficção e realidade, noções de narratividade e práticas de deslocamento, deriva e deambulação já eram questões presentes no início da produção da artista Angella Conte em colagens, objetos, esculturas e assemblagens. Essas questões ficam mais complexas a partir do momento que a artista passa a se dedicar quase que exclusivamente à linguagem do vídeo a partir de 2005. Os vídeos da artista começam a explorar de forma mais profunda estes assuntos que já permeavam os trabalhos anteriores.

 

Na exposição “A Viagem Exterior, O Caminho Interior ou Vice-Versa” [ii], todas as questões levantadas acima estão presentes, porém para o contexto da exposição optamos por apresentar um recorte da produção videográfica da artista que recai sobre pontos mais específicos como reflexões acerca do “documental”, as dimensões discursivas presentes na linguagem audiovisual a partir de seus procedimentos técnicos e de suas formas de exibição, assim também como problemáticas sócio-políticas e econômicas.

 

Durante o processo de desenvolvimento da exposição a partir destes pontos de partida conceituais acabamos nos voltando para a importantíssima exposição “a respeito de SITUAÇÕES REAIS” realizada em 2003 na cidade de São Paulo no Paço das Artes com curadoria de Catherine David e Jean-Pierre Rehm e produzida por Lígia Nobre e Cécile Zoonens através da plataforma exo[iii]. Como colocado pelas próprias produtoras no texto de apresentação do projeto, a exposição tratava de uma narração polifônica de uma realidade vivida e do interesse por algumas perguntas e não necessariamente por suas respostas: De que modo tal realidade (re) apresentada nos afeta e posiciona? De que modo ela é real?

 

Nas palavras do pesquisador e colaborador do projeto Jean-Claude Bernardet, a exposição buscava “perceber os sinais de uma renovação no trânsito entre arte e realidade e de encontrar atitudes artísticas [e, de fato, políticas] que modifiquem a nossa relação com o real e, por isso, redescubram-no ou descubram outras realidades”.

 

Na exposição da artista Angella Conte podemos observar desejos e questionamentos similares. Em vídeos como “Uma multidão arrastada pela Fé” e “Havana 1º de Maio”, isso se torna evidente. Que tipo de comentário está implícito nesses registros do “real”?

 

Além desses vídeos que podem ser analisados em sua individualidade, a exposição ganha complexidade e potência se analisada como uma grande instalação, não sendo observada do ponto de vista expográfico convencional de uma mostra de vídeos - no caso o agrupamento desses trabalhos e sua apresentação em conjunto transformam a exposição numa zona discursiva e dialógica, pois a relação entre os trabalhos pode ser pensada como um procedimento de edição e montagem audiovisual, porém de forma especializada[iv].

 

Neste sentido quando temos os dois vídeos citados acima postos em relação a trabalhos como “Paisagem que Passa”, “Rio 34 mil pés”, “Entre Tempos”, “Deslocamento” e “Nem mesmo escuto a minha Alma” se torna possível criar dentro da exposição uma grande narrativa a partir do encadeamento desses trabalhos.

 

Enquanto pessoas caminham para algum lugar, uma multidão se arrasta durante o evento religioso do Círio de Nazaré na cidade de Belém do Pará. Já em Cuba, trabalhadores marcham durante o feriado de 1º de Maio (Dia do Trabalhador) nas ruas de Havana festejando o governo. Do outro lado do oceano a artista caminha pelas vielas da cidade de Lisboa durante o período de extrema crise que Portugal vivia após o segundo abalo econômico vivido pelo país em 2008 e antes no ano de 2001. Apesar disso o entorno registrado no vídeo parece exibir uma desesperadora calmaria e placidez, enquanto a artista caminha metaforicamente quase como uma figura fantasmagórica ou um mau presságio. Resignação? E em Madri, também em meio à crise, num belo domingo, espanhóis descansam em um parque na beira de um rio como em uma pintura de Antoine Watteau. Síndrome de Poliana? Enquanto isso nuvens passam e um avião sobrevoa a cidade do Rio de Janeiro a 34 mil pés. O silêncio tomou conta da cidade.

 

A narrativa acima é somente possível de ser criada por conta das relações que se dão no agrupamento desses trabalhos, como colocado anteriormente. Esta narrativa abre espaço justamente para a ficção. Neste sentido os vídeos que aparentemente poderíamos enquadrar em uma linguagem documental acabam diluindo a fronteira entre real e imaginário, ou entre real e ficcional. Além dos comentários sociais, políticos e econômicos presentes nestes trabalhos - que têm seu discurso reforçado por procedimentos inerentes ao audiovisual como algumas formas de edição, sonorização, assim como o loop, enquadramentos e planos-  temos também a questão do tempo e espaço que inserem mais uma camada nesta equação, seja quando existe a contextualização de algum território ou localidade, geograficamente falando, ou quando se descontextualiza completamente. Assim também ocorre com a questão temporal que em alguns momentos parece se aproximar de alguma forma com o tempo cronológico, mas que na maior parte do tempo desconstrói essa forma de tempo criando outro tipo de timing.

 

Em a “A Viagem Exterior, O Caminho Interior ou Vice-Versa” fica evidente que não existe mais espaço para as “macro-narrativas”, nem para verdades absolutas. A micropolítica proposta por Deleuze e Guattari seria uma resposta, uma perspectiva para a vida. O que nos move? Em que queremos acreditar? Que história? Para onde precisamos ir para chegarmos a nós mesmos?"

 

Bruno Mendonça

Grupo de Crítica e Curadoria do Centro Cultural São Paulo

 

Notas

 

[i] Diversos teóricos contemporâneos tem se debruçado sobre o tema da paisagem, desde Anne Cauquelin em seu livro “A Invenção da Paisagem”, assim como o importante geógrafo Milton Santos e a pesquisadora Renata Marquez que tem a alguns anos proposto relações bastante interessantes sobre arte e geografia. Sua produção pode ser conferida no site - http://www.geografiaportatil.org/ . Esses são apenas alguns exemplos para um aprofundamento maior sobre o tema.

 

[ii] Expressão retirada do texto ”Lugares do Anseio” de Verena Kast, publicado na revista Humboldt (edição “Passagens”) do Goethe-Institut. A publicação trás uma abordagem sobre a viagem a partir de perspectivas etnológicas, filosóficas, psicológicas, da história da arte e da história da cultura. Link do texto - http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/159/pt11285896.htm

 

[iii] Ver catálogo a respeito de SITUAÇÕES REAIS. Coedição Paço das Artes e exo experimental org. Abril de 2003. A exposição foi um desdobramento da exposição [based upon] TRUE STORIES, produzida e organizada em Roterdã pelo Centro de Arte Contemporânea Witte de With em colaboração com o FID – Festival Internacional de Documentários de Marselha e o Festival Internacional de Filmes de Roterdã, em janeiro-março de 2003. http://www.arquivoexo.org/praticas-documentarias

 

[iv] A artista e pesquisadora Raquel Garbelotti irá realizar um reflexão interessante sobre algumas dessas questões a partir da exposição “a respeito de SITUAÇÕES REAIS” em seu artigo “Situações Reais: O documental e o instalativo como dispositivo político” (2013). Disponível em: http://www.arquivoexo.org/praticas-documentarias/ensaio

 

Apoio

Galeria Contempo

GROU (material gráfico e divulgação)

Flavio Lamenha (fotos catálogo)

Período expositivo: 28/06/15 a 23/08/15

Centro Cultural São Paulo

Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso - São Paulo/SP - CEP 01504-000.

www.centrocultural.sp.gov.br/

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